Ars curandi Wiki
Grupo1t2 (discussão | contribs)
(Criou nova página com ''''Sarton, George Alfred Léon'''(''N''. Ghent, Bélgica, 31 de Agosto de 1884; ''ob''. Cambridge, Massachussets, EUA). História da Ciência Consid...')
 
Grupo1t2 (discussão | contribs)
Sem resumo de edição
 
(11 revisões intermediárias por 2 usuários não estão sendo mostradas)
Linha 1: Linha 1:
 
'''Sarton, George Alfred Léon'''(''N''. [[Ghent]], [[Bélgica]], [[31 de Agosto de 1884]]; ''ob''.
 
'''Sarton, George Alfred Léon'''(''N''. [[Ghent]], [[Bélgica]], [[31 de Agosto de 1884]]; ''ob''.
[[Cambridge]], [[Massachussets, EUA]]). [[História da Ciência]] Considerado o ''pai'' da História da Ciência
+
[[Cambridge]], [[Massachussets, EUA]]). [[História da Ciência]]. Considerado o ''Pai'' da História da Ciência.
 
[[Imagem:GeorgeSarton.jpg|George Sarton]]
 
   
 
== Vida ==
 
== Vida ==
 
[[Image:GeorgeSarton.jpg|George Sarton, o Pai da História da Ciência]]
George Alfred Léon Sarton nasceu em Ghent, na Bélgica, a 31 de Agosto de 1884, filho único de Alfred Sarton, engenheiro e director dos Caminhos de Ferro daquele país e de Léonie Van Halmé, que faleceu poucos meses após o seu nascimento. George cresceu como uma criança isolada, envolta por criados, mas com uma educação próspera. O seu percurso escolar levou-o a estudar Filosofia na Unversidade de Ghent, curso que rapidamente abandonou para se dedicar às ciências naturais, no âmbito das quais estudou Química, Cristalogia e depois Matemática.
 
Sarton graduou-se em 1911, ano no qual se casou, pelo mês de Maio, com Eleanor Mabel Elwes, com a qual partilhava muitas semelhanças, como a infância solitária que ambos passaram. Comprou uma agradável casa de campo em Wondelgem, perto da sua cidade natal, onde viria a nascer a sua única filha, May Sarton, no mês de Maio de 1912. Foi também por esta altura que tomou a grande decisão de fundar a '''Isis''', a sua ''Revue consacreé à l’histoire de la science'' cujo primeiro número foi editado em Março de 1913.
 
A invasão Alemã da Bélgica, com o despoletar da I Guerra Mundial implicou mudanças na vida de George Sarton, que abandonou a sua casa em Wondelgem onde tinha a sua biblioteca bem como muito do seu trabalho, refugiando-se no e Londres, com a sua família. Em Inglaterra só ficaria até ao início de 1915, quando embarcou para os Estados Unidos da América deixando a sua família temporariamente para trás. Viajava cheio de esperanças na variedade e diversidade das instituições americanas e no seu espírito progressista. Quando Sarton chegou aos Estados Unidos da América a História da Ciência encontrava-se já estabelecida como actividade, apesar de bastante distante de ser considerada uma disciplina intelectual ou profissão. Graças a amigos e conhecidos foi convidado para palestras, seminários e outros compromissos pontuais nas Universidades Americanas até que se fixou na Universidade de Harvard, leccionando primeiro Filosofia e depois História da Ciência. Ocupou esta posição durante dois anos apenas, talvez pelas dificuldades que Harvad enfrentava com a entrada dos EUA na I Guerra, talvez pela fraca adesão dos estudantes ao seu trabalho.
 
Foi então, em 1918, que começou a sua associação ao ''Carnegie Institution of Washington'', que duraria para resto da sua vida, e em relação à qual passaria a ser investigador associado. Apesar de trabalhar a tempo inteiro para este instituto Sarton manteve a sua vida em Cambridge, para onde voltou imediatamente após uma expedição que fez a Wondelgem , assim que o fim da Guerra lho permitiu, para recuperar os seus bens e principalmente o trabalho que lá deixara. Conseguiu um espaço para desenvolver a sua obra na Widener Library, uma das maiores bibliotecas do mundo, e continuando associado ao Carnegie Institution pode desenvolver a sua obra e missão de vida. Realizou, durante este tempo várias viagens, por exemplo a África para estudar o Islamismo. Em 1940 tornou-se oficialmente professor em Harvard, mantendo no entanto s funções que desempenhava aneriormente. Morreu em Cambridge, a 22 de Março de 1956.
 
   
 
'''George Alfred Léon Sarton''' era filho único de Alfred Sarton, engenheiro e director dos Caminhos de Ferro Belgas e de Léonie Van Halmé, que faleceu poucos meses após o seu nascimento. George cresceu como uma criança isolada, envolta por criados, mas com uma educação próspera. O seu percurso escolar levou-o a estudar Filosofia na Unversidade de Ghent, curso que rapidamente abandonou para se dedicar às ciências naturais, no âmbito das quais estudou Química, Cristalogia e depois Matemática.
 
Sarton graduou-se em 1911, ano no qual se casou, pelo mês de Maio, com Eleanor Mabel Elwes, com a qual partilhava muitas semelhanças como a infância solitária que ambos passaram. Comprou uma agradável casa de campo em Wondelgem, perto da sua cidade natal, onde viria a nascer a sua única filha, May Sarton, no mês de Maio de 1912. Foi também por esta altura que tomou a grande decisão de fundar a '''Isis''', a sua ''Revue consacreé à l’histoire de la Science'' cujo primeiro número foi editado em Março de 1913.
 
A invasão Alemã da Bélgica, com o despoletar da I Guerra Mundial, implicou mudanças na vida de George Sarton, que abandonou a sua casa em Wondelgem onde tinha a sua biblioteca bem como muito do seu trabalho, refugiando-se em Londres com a sua família. Em Inglaterra só ficaria até ao início de 1915, quando embarcou para os Estados Unidos da América deixando a família temporariamente para trás. Viajava cheio de esperanças na variedade e diversidade das instituições americanas e no seu espírito progressista. Quando Sarton chegou aos Estados Unidos da América a História da Ciência encontrava-se já estabelecida como actividade, apesar de bastante distante de ser considerada uma disciplina intelectual ou profissão. Graças a amigos e conhecidos foi convidado para palestras, seminários e outros compromissos pontuais nas Universidades Americanas até que se fixou na Universidade de Harvard, leccionando primeiro Filosofia e depois História da Ciência. Ocupou esta posição durante dois anos apenas, talvez pelas dificuldades que Harvad enfrentava com a entrada dos EUA na I Guerra, talvez pela fraca adesão dos estudantes ao seu trabalho.
 
Foi então, em 1918, que começou a sua associação ao ''Carnegie Institution of Washington'', que duraria para resto da sua vida, e em relação ao qual passaria a ser investigador associado. Apesar de trabalhar a tempo inteiro para este instituto Sarton manteve a sua vida em Cambridge, para onde voltou imediatamente após uma expedição que fez a Wondelgem assim que o fim da Guerra lho permitiu, para recuperar os seus bens e principalmente o trabalho que lá deixara.
  +
Conseguiu um espaço para desenvolver a sua obra na ''Widener Library'' (Cambridge), uma das maiores bibliotecas do mundo, e continuando associado ao ''Carnegie Institution'' pôde desenvolver a sua obra e missão de vida. Realizou, durante este tempo várias viagens, por exemplo a África para estudar o Islamismo. Em 1940 tornou-se oficialmente professor em Harvard, mantendo no entanto as funções que desempenhava anteriormente. Morreu em Cambridge, a 22 de Março de 1956.
   
 
== Obra ==
 
== Obra ==
De 1910 data uma nota no diário de George Sarton que é bastante reveladora e profética daquilo a que este pretendia dedicar a sua vida:
+
De 1910 data uma nota no diário de George Sarton que é bastante reveladora daquilo a que este pretendia dedicar a sua vida:
  +
''É quase certo que devo dedicar uma grande parte da minha vida ao estudo da ‘filosofia natural’. Há um grande trabalho para ser desenvolvido nessa direcção . E, no meu ponto de vista, a história viva, a apaixonante história das ciência físicas e matemáticas ainda se encontra para ser escrita. Não é isso que a história realmente é, a educação da grandeza humana, tal como a sua fraqueza?'' Foi esta fé iluminada e liberal que guiou Sarton ao longo do seu percurso, perante a complexidade e esforço que tarefa a que se propôs – sitematizar e providenciar ferramentas e metodologias para uma nova disciplina, a história da ciência, lhe exigiu.
+
''É quase certo que devo dedicar uma grande parte da minha vida ao estudo da ‘filosofia natural’. Há um grande trabalho para ser desenvolvido nessa direcção . E, no meu ponto de vista, a história viva, a apaixonante história das ciência físicas e matemáticas ainda se encontra para ser escrita. Não é isso que a história realmente é, a educação da grandeza humana, tal como a sua fraqueza?''
O primeiro grande passo foi a criação da '''Isis''', publicação sobre Hsitória da Ciência que se tornou na primeira ferramenta institucional que lhe foi necessária para transformar uma vasta área de conhecimento numa disciplina que acreditava ser dedicada à comparação e síntese, apesar da sua concepção filosófica. As suas crenças neste âmbito foram descritas em algumas palavras no primeiro volume da sua monumental da ''Introduction os the History of science''
 
  +
''A História da Ciência é a história da Humanidade e do seu objectivo sublime à sua gradual redenção.'' Na realidade pode perceber-se nestas palavras de Sarton o paradoxo por detrás da sua carreira: de um lado a criação de infraestruturas para a História das Ciência,de outro a vontade de atingir um objectivo maior: ''o novo Humanismo.''
 
 
Foi esta fé iluminada e liberal que guiou Sarton ao longo do seu percurso, perante a complexidade e morosidade da tarefa a que se propôs – sistematizar e providenciar ferramentas e metodologias para uma nova disciplina, a História da Ciência. O primeiro grande passo foi a criação da '''Isis''', publicação sobre área que se tornou na primeira ferramenta institucional que lhe foi necessária para transformar um vasto campo de conhecimento numa disciplina que acreditava ser dedicada à comparação e síntese, apesar da sua concepção filosófica. As suas crenças neste âmbito foram descritas em algumas palavras no primeiro volume da sua monumental '''Introduction of the History of science''':
Os seus planos e ideais viveram tempos de incertezas com a I Guerra Mundial e Sarton depositou as suas esperanças nos EUA. Foi já como investigador associado do ''Carnegie Institution'', depois de ter leccionado durando dois anos na Universidade de Harvard, que Sarton de dedicou ao estudo de Leonardo da Vinci e seus manuscritos e a um livro ‘The teaching of History of Science’. Sarton tinha inúmeros projectos simultêneos - a história da Física no séc.XIX, uma descrição completa do início da Ciência, uma enciclopédia chinesa, uma exibição do progresso da Ciência, um catálogo de instrumentos científicos até 1900
 
  +
- que acabaram por revelar um mau método,reflectindo um avanço lento das suas criações. Surgiu ainda o plano de editar, em conjunto com Charles Singer a História Geral da Ciência e Civilização, escrita por académicos consagrados em 12 volumes, durante a década seguinte, pelo Oxford University Press. Em 1934 esta edição era ainda um projecto, tendo mudado de nome para The Harvard History of Science, em oito volumes ilustrados. A sua grande obra começou no entanto a ganhar forma, na época do seu retorno à Bélgica, sendo ''The Introduction os the History of Science'' – um compêndio de fontes de informação às quais os alunos poderiam recorrer, inicialmente pensado para oito volumes, cujo primeiro foi publicado em 1927 e o terceiro por volta de 1948 atingindo apenas 1400 AD e demostrando que este trabalho atingiria uma dimensão muito superior à inicialmente pensada. Nos seus últimos anos ocupou-se de inúmeras palestras nas várias Universidades Americanas de onde derivaram estudos como ''The History os Science and the New Humanism'' (New York, 1931) e ''Appreciation of na Ancient and Medieval Science During the Renaissance'' (Philadelphia, 1955) e principalmente das suas obras superiores, anteriormente referidas. No que seriam das suas últimas declarações, George Sarton continuava a expressar a sua convicção em que o único caminho para ao progresso intelectual é a pesquisa científica, no entanto acabou por concluir, tal como outros Historiadores da Ciência, que o seu trabalho era mais abundante em história e cultura do que na narrativa do desenvolvimento científico.
 
  +
''A História da Ciência é a História da Humanidade, do seu objectivo sublime, sua gradual redenção.''
George Sarton tornou se a representação da História da Ciência para ambos os públicos europeu e americano. Escreveu 15 livros e aproximadamente 300 artigos e notas, para além de ter editado a Ísis durante 40 anos e produzido cerca de 79 bibliografias críticas da História da Ciência. Foi honrado com uma variedade de prémios, incluindo Charles Homer Haskins Medal of the Mediaeval Academy of America (1949) e George Sarton medal of the History os Science(1955).Também a sua presença em Harvard se revelou crucial para a criação e legitimação de um departamento que é no presente uma dos maiores centros de História da Ciência. Contudo a innfluência de George Sarton na disciplina em que tanto trabalhou para criar não deixa de ter um lado obscuro: criando um jornal, bibliografias críticas e sobretudo escrevendo, a Introduction, entre outros este criou elementos necessários à prática da disciplina mas nem métodos nem orientações para que este campo perdurasse. A História da Ciência é agora um campo de conhecimento consolidado. À primeira vista parece que este estabelecimento teve pouco a ver com George Sarton, no entanto, este não só criou e reuniu os materiais mas no fundo foi o primeira arquitecto da História de Ciência como uma disciplna organizada e independente.
 
   
 
Na realidade pode perceber-se nestas palavras de Sarton o paradoxo por detrás da sua carreira: de um lado a criação de infraestruturas para a História das Ciência, de outro a vontade de atingir um objectivo maior: ''o novo Humanismo.''
 
Os seus planos e ideais viveram tempos de incertezas com a I Guerra Mundial e Sarton depositou as suas esperanças nos EUA. Foi já como investigador associado do ''Carnegie Institution'', depois de ter leccionado durando dois anos na Universidade de Harvard, que Sarton de dedicou ao estudo de Leonardo da Vinci e seus manuscritos e a um livro - ‘The teaching of History of Science’.
  +
George Sarton tinha inúmeros projectos simultâneos - a história da Física no séc.XIX, uma descrição completa do início da Ciência, uma enciclopédia chinesa, uma exibição do progresso da Ciência, um catálogo de instrumentos científicos até 1900
  +
- o que acabou por revelar um mau método, reflectindo um avanço lento das suas criações. Surgiu ainda o plano de editar, em conjunto com Charles Singer,a ''General History of Science anda Civilization'', escrita por académicos consagrados em 12 volumes durante a década seguinte, pelo Oxford University Press. Em 1934 esta edição era ainda um projecto, tendo mudado de nome para ''The Harvard History of Science'', em oito volumes ilustrados.
  +
A sua grande obra começou no entanto a ganhar forma, na época do seu retorno à Bélgica, sendo '''The Introduction of the History of Science''' – um compêndio de fontes de informação, inicialmente pensado para oito volumes, cujo primeiro foi publicado em 1927 e o terceiro por volta de 1948 atingindo apenas 1400 AD e demostrando que este trabalho atingiria uma dimensão muito superior à inicialmente pensada.
 
Nos seus últimos anos ocupou-se de inúmeras palestras nas várias Universidades Americanas de onde derivaram estudos como ''The History os Science and the New Humanism'' (New York, 1931) e ''Appreciation of na Ancient and Medieval Science During the Renaissance'' (Philadelphia, 1955) e principalmente às suas obras superiores, anteriormente referidas. No que seriam das suas últimas declarações, George Sarton continuou a expressar a sua convicção, de que o único caminho para o progresso intelectual é a pesquisa científica. No entanto acabou por concluir, tal como outros Historiadores da Ciência, que o seu trabalho era mais abundante em história e cultura do que na narrativa do desenvolvimento científico.
 
George Sarton tornou-se a representação da História da Ciência para ambos os públicos europeu e americano. Escreveu [[15 livros e aproximadamente 300 artigos e notas, para além de ter editado a Ísis durante 40 anos e produzido cerca de 79 bibliografias críticas da História da Ciência]]. Foi honrado com uma variedade de prémios, incluindo Charles Homer Haskins Medal of the Mediaeval Academy of America (1949) e George Sarton medal of the History os Science (1955). Também a sua presença em Harvard se revelou crucial para a criação e legitimação de um departamento que é no presente uma dos maiores centros de História da Ciência. Contudo, a influência de George Sarton na disciplina em que tanto trabalhou para criar não deixa de ter um lado obscuro: criando um jornal, bibliografias críticas e sobretudo escrevendo, a ''Introduction'', entre outros, este reuniu elementos necessários à prática da disciplina mas nem métodos nem orientações para que este campo perdurasse. A História da Ciência é agora um campo de conhecimento consolidado. À primeira vista parece que esta consolidação teve pouco a ver com George Sarton, no entanto, este não só criou e reuniu os materiais mas foi no fundo o primeiro arquitecto e grande impulsionador da História de Ciência como uma disciplina organizada e independente.
   
 
== Bibliografia ==
 
== Bibliografia ==

Edição atual tal como às 21h20min de 1 de junho de 2009

Sarton, George Alfred Léon(N. Ghent, Bélgica, 31 de Agosto de 1884; ob. Cambridge, Massachussets, EUA). História da Ciência. Considerado o Pai da História da Ciência.

Vida

George Sarton, o Pai da História da Ciência

George Alfred Léon Sarton era filho único de Alfred Sarton, engenheiro e director dos Caminhos de Ferro Belgas e de Léonie Van Halmé, que faleceu poucos meses após o seu nascimento. George cresceu como uma criança isolada, envolta por criados, mas com uma educação próspera. O seu percurso escolar levou-o a estudar Filosofia na Unversidade de Ghent, curso que rapidamente abandonou para se dedicar às ciências naturais, no âmbito das quais estudou Química, Cristalogia e depois Matemática. Sarton graduou-se em 1911, ano no qual se casou, pelo mês de Maio, com Eleanor Mabel Elwes, com a qual partilhava muitas semelhanças como a infância solitária que ambos passaram. Comprou uma agradável casa de campo em Wondelgem, perto da sua cidade natal, onde viria a nascer a sua única filha, May Sarton, no mês de Maio de 1912. Foi também por esta altura que tomou a grande decisão de fundar a Isis, a sua Revue consacreé à l’histoire de la Science cujo primeiro número foi editado em Março de 1913. A invasão Alemã da Bélgica, com o despoletar da I Guerra Mundial, implicou mudanças na vida de George Sarton, que abandonou a sua casa em Wondelgem onde tinha a sua biblioteca bem como muito do seu trabalho, refugiando-se em Londres com a sua família. Em Inglaterra só ficaria até ao início de 1915, quando embarcou para os Estados Unidos da América deixando a família temporariamente para trás. Viajava cheio de esperanças na variedade e diversidade das instituições americanas e no seu espírito progressista. Quando Sarton chegou aos Estados Unidos da América a História da Ciência encontrava-se já estabelecida como actividade, apesar de bastante distante de ser considerada uma disciplina intelectual ou profissão. Graças a amigos e conhecidos foi convidado para palestras, seminários e outros compromissos pontuais nas Universidades Americanas até que se fixou na Universidade de Harvard, leccionando primeiro Filosofia e depois História da Ciência. Ocupou esta posição durante dois anos apenas, talvez pelas dificuldades que Harvad enfrentava com a entrada dos EUA na I Guerra, talvez pela fraca adesão dos estudantes ao seu trabalho. Foi então, em 1918, que começou a sua associação ao Carnegie Institution of Washington, que duraria para resto da sua vida, e em relação ao qual passaria a ser investigador associado. Apesar de trabalhar a tempo inteiro para este instituto Sarton manteve a sua vida em Cambridge, para onde voltou imediatamente após uma expedição que fez a Wondelgem assim que o fim da Guerra lho permitiu, para recuperar os seus bens e principalmente o trabalho que lá deixara. Conseguiu um espaço para desenvolver a sua obra na Widener Library (Cambridge), uma das maiores bibliotecas do mundo, e continuando associado ao Carnegie Institution pôde desenvolver a sua obra e missão de vida. Realizou, durante este tempo várias viagens, por exemplo a África para estudar o Islamismo. Em 1940 tornou-se oficialmente professor em Harvard, mantendo no entanto as funções que desempenhava anteriormente. Morreu em Cambridge, a 22 de Março de 1956.

Obra

De 1910 data uma nota no diário de George Sarton que é bastante reveladora daquilo a que este pretendia dedicar a sua vida:

  É quase certo que devo dedicar uma grande parte da minha vida ao estudo da ‘filosofia natural’. Há um grande trabalho para ser desenvolvido nessa direcção . E, no meu ponto de vista, a história viva, a apaixonante história  das ciência físicas e matemáticas ainda se encontra para ser escrita. Não é isso que a história realmente é, a educação da grandeza humana, tal como a sua fraqueza? 

Foi esta fé iluminada e liberal que guiou Sarton ao longo do seu percurso, perante a complexidade e morosidade da tarefa a que se propôs – sistematizar e providenciar ferramentas e metodologias para uma nova disciplina, a História da Ciência. O primeiro grande passo foi a criação da Isis, publicação sobre área que se tornou na primeira ferramenta institucional que lhe foi necessária para transformar um vasto campo de conhecimento numa disciplina que acreditava ser dedicada à comparação e síntese, apesar da sua concepção filosófica. As suas crenças neste âmbito foram descritas em algumas palavras no primeiro volume da sua monumental Introduction of the History of science:

  A História da Ciência é a História da Humanidade, do seu objectivo sublime, sua gradual redenção. 

Na realidade pode perceber-se nestas palavras de Sarton o paradoxo por detrás da sua carreira: de um lado a criação de infraestruturas para a História das Ciência, de outro a vontade de atingir um objectivo maior: o novo Humanismo. Os seus planos e ideais viveram tempos de incertezas com a I Guerra Mundial e Sarton depositou as suas esperanças nos EUA. Foi já como investigador associado do Carnegie Institution, depois de ter leccionado durando dois anos na Universidade de Harvard, que Sarton de dedicou ao estudo de Leonardo da Vinci e seus manuscritos e a um livro - ‘The teaching of History of Science’. George Sarton tinha inúmeros projectos simultâneos - a história da Física no séc.XIX, uma descrição completa do início da Ciência, uma enciclopédia chinesa, uma exibição do progresso da Ciência, um catálogo de instrumentos científicos até 1900 - o que acabou por revelar um mau método, reflectindo um avanço lento das suas criações. Surgiu ainda o plano de editar, em conjunto com Charles Singer,a General History of Science anda Civilization, escrita por académicos consagrados em 12 volumes durante a década seguinte, pelo Oxford University Press. Em 1934 esta edição era ainda um projecto, tendo mudado de nome para The Harvard History of Science, em oito volumes ilustrados. A sua grande obra começou no entanto a ganhar forma, na época do seu retorno à Bélgica, sendo The Introduction of the History of Science – um compêndio de fontes de informação, inicialmente pensado para oito volumes, cujo primeiro foi publicado em 1927 e o terceiro por volta de 1948 atingindo apenas 1400 AD e demostrando que este trabalho atingiria uma dimensão muito superior à inicialmente pensada. Nos seus últimos anos ocupou-se de inúmeras palestras nas várias Universidades Americanas de onde derivaram estudos como The History os Science and the New Humanism (New York, 1931) e Appreciation of na Ancient and Medieval Science During the Renaissance (Philadelphia, 1955) e principalmente às suas obras superiores, anteriormente referidas. No que seriam das suas últimas declarações, George Sarton continuou a expressar a sua convicção, de que o único caminho para o progresso intelectual é a pesquisa científica. No entanto acabou por concluir, tal como outros Historiadores da Ciência, que o seu trabalho era mais abundante em história e cultura do que na narrativa do desenvolvimento científico. George Sarton tornou-se a representação da História da Ciência para ambos os públicos europeu e americano. Escreveu 15 livros e aproximadamente 300 artigos e notas, para além de ter editado a Ísis durante 40 anos e produzido cerca de 79 bibliografias críticas da História da Ciência. Foi honrado com uma variedade de prémios, incluindo Charles Homer Haskins Medal of the Mediaeval Academy of America (1949) e George Sarton medal of the History os Science (1955). Também a sua presença em Harvard se revelou crucial para a criação e legitimação de um departamento que é no presente uma dos maiores centros de História da Ciência. Contudo, a influência de George Sarton na disciplina em que tanto trabalhou para criar não deixa de ter um lado obscuro: criando um jornal, bibliografias críticas e sobretudo escrevendo, a Introduction, entre outros, este reuniu elementos necessários à prática da disciplina mas nem métodos nem orientações para que este campo perdurasse. A História da Ciência é agora um campo de conhecimento consolidado. À primeira vista parece que esta consolidação teve pouco a ver com George Sarton, no entanto, este não só criou e reuniu os materiais mas foi no fundo o primeiro arquitecto e grande impulsionador da História de Ciência como uma disciplina organizada e independente.

Bibliografia

Gillispie, C. (1970). Dictionary of Scientific Biography. Charles Scribner's sons, New York. Vol. 11