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João Curvo Semedo (1635-1719)

João Curvo Semedo (Monforte, Portugal, 1635; Lisboa, Portugal, 1719). Pioneiro da medicina química barroca em Portugal, promoveu a aliança entre o saber médico greco-romano e a magia natural.

Vida e Obra

Semedo, João Curvo (Monforte, distrito de Portalegre, Portugal, 1 de Dezembro de 1635; Lisboa, Portugal, 26 de Novembro de 1719), médico e promotor de novos medicamentos. Natural de Monforte, instalou-se em Lisboa em 1647 na Ribeira com seu pai, que mantivera o negócio do ferro, já conhecido como o negócio de avô de Semedo. Estudou no colégio de Santo Antão e posteriormente prosseguiu os seus estudos na Universidade de Coimbra, onde se formou em Medicina. A vinda de Semedo para Lisboa e Coimbra abriu-lhe novos horizontes, assim como os seus laços familiares, parente de personalidades bastante influentes da época quer no campo religioso e médico-farmacêutico, foram fundamentais para o seu sucesso. As proximidades de parentesco de João Semedo com figuras importantes da época como, Frei Manuel Guilherme, dominicano influente, professor de Teologia Moral, pregador e qualificador de Santo Ofício, facilitaram-lhe a candidatura a familiar do Santo Ofício, e a nomear-se “ médico do partido de sua Majestade”, permitindo-lhe formar-se em medicina por via dos partidos de médicos cristãos-velhos da Universidade de Coimbra. Iniciou a sua licenciatura em 1657 e terminou por volta de 1661-1662, data em que regressou a Lisboa e começou a exercer a sua profissão.


Isabel Guilherme foi a sua segunda mulher não tendo desta nenhum filho.Da primeira teve um filho ilegítimo, o seu único filho, o respeitável Inácio Curvo Semedo, cónego quartanário que morreu em 1746 sem deixar descendentes. Quem deu continuidade ao seu fabrico de remédios secretos foram os seus sobrinhos, Pedro Joaquim Curvo Semedo, António Félix Curvo Semedo e Manuel José Curvo Semedo, filhos de Francisco Curvo Semedo, seu irmão mais velho.


Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo, familiar do Santo Ofício, médico dos mais variados estratos sociais, João Curvo Semedo acumula títulos de distinção na sociedade portuguesa seiscentista, ocupando sem sombra de dúvida a mais prestigiada posição do barroco médico português. O seu principal contributo para a farmácia seiscentista foi a defesa fortíssima e a popularização do uso de medicamentos químicos em geral, e do antimónio em particular. Apesar de exercer uma grande e directa influência no quotidiano médico do país, Semedo é um incompreendido e esquecido da nossa historiografia médica. João Curvo Semedo, deixou-nos algumas obras que se mantiveram bastante populares, tendo continuado a ser divulgadas pelos seus descendentes. A importância da obra escrita por Curvo Semedo não reside no volume (somente nove títulos e alguns folhetos), mas na influência que exerceu na medicina em Portugal na primeira metade do século XVIII. Constata-se em manuscritos, receitas e literatura médica portuguesa da época, a importância que Semedo teve para outros autores na área da medicina, uma vez que se verifica que é raro o autor que não foque o seu nome. Fonseca Henriques, também adepto do uso dos medicamentos químicos, salienta que muitos galénicos e herméticos devem o seu conhecimento a Curvo Semedo.


Apesar da exacta dimensão de sua importância, o facto de João Curvo combinar a tradição antiga e o hermetismo em voga na Europa, recorrendo a todo o tipo de medicamentos na sua terapêutica, mesmo os mais estranhos e repugnantes, leva a que alguns religiosos o censurem. Tomando atitudes pouco impeditivas, o padre Francisco Pinheiro e Frei João de Santo Agostinho opõem-se ao aspecto arsenal medicamentoso, dizendo que alguns remédios puderam parecer superstições e algumas curas, encanto ou feitiço.


A sua obra mais conhecida e influente foi Polianteia Medicinal, em 1680. Esta obra está divida em três tratados, onde descreve a utilização e aplicação do antimónio, as qualidades e benefícios dos pós de Quintílio, não deixando de referir outras terapêutica altenativas. Trata ainda no terceiro tratado “da bondade da Química” ,da importância e necessidade de os médicos a aprenderem. Apesar do seu orgulho como pioneiro da medicina química, João Semedo presta grande homenagem aos pós de Quintílio e ao Antimónio, tendo sido o primeiro médico a introduzir o seu uso no nosso país. É notório pelas suas obras que este médico tanto recorre á medicina química como também se baseia na teoria dos humores para explicar um grande número de doenças e evoluir no campo da terapêutica. Afirma “ ..Nem quando louvo os remédios químicos, deixo de conhecer se devem grandes aplausos aos Galénicos”


A obra de Semente expandiu-se além-fronteiras, tendo nomes como Francisco Suárez de Riviera, médico espanhol, lhe dedicado livros. Em Itália também foram encontradas referências a Curvo Semedo.

Publicações e Contribuições

  • Tratado da peste (1680)
  • Polianteia Medicinal
  • Notícias Galénicas e Químicas (1697)
  • Folheto Manifesto que o Doutor João Curvo Semedo […]Faz aos Amantes da Saúde (1706)
  • Observações Médicas Doutrinais (1707)
  • O Memorial de Vários Remédios (anterior a 1716)
  • Manifesto em Que Se Mostra com Autoriddes de Gravissimos Doutores Que Se Podem D ar Purgas Estando os Humores Crus, s/d (anterior a 1716)
  • Observationes Aefgitufium Fere Curabilium (1718 – versão latina)
  • Atalaia da Vida contra as Hostilidades da Morte (1720)
  • Tratado do Ouro Diaforético (1720)

Bibliografia

  • Sousa Dias, J., DROGUISTAS, BOTICÁRIO E SEGREDISTAS- Ciência e Sociedade na Produção e Medicamentos na Lisboa de Setecentos, Fundação Caloute Gulbenkian, 2007

Ligações Externas

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